Política
Publicado em 17/04/2025, às 10h54 Relatório da PF revela a tensão no ambiente de trabalho de Tagliaferro e suas críticas ao ex-chefe, Alexandre de Moraes. - Divulgação Dani Oliveira
Mensagens inéditas obtidas pela Polícia Federal, no âmbito de uma investigação contra o perito Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do ministro Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), revelam que ele temia ser preso — ou até morto — caso decidisse tornar públicas informações sobre o período em que trabalhou com o ministro. Em conversas de WhatsApp com sua atual esposa, trocadas entre março e novembro de 2024, Tagliaferro manifestou medo do ex-chefe e desabafou sobre sua experiência em Brasília.
“Se eu falar algo, o Ministro me mata ou me prende”, escreveu o perito em 31 de março do ano passado. Em outro momento, ele afirma: “Minha vontade é chutar o pau da barraca, jogar tudo para o alto”. Tagliaferro também disse à mulher que desejava “contar tudo de Brasília” antes de morrer.
As mensagens fazem parte de um relatório da Polícia Federal anexado ao inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF). O documento é público e pode ser acessado por qualquer cidadão cadastrado no sistema de consulta processual da Corte. A Gazeta do Povo teve acesso ao material, que inclui o link com os arquivos extraídos do celular do investigado.
Tagliaferro atuou como chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) do TSE entre agosto de 2022 e maio de 2023. No cargo, ele produzia relatórios sobre políticos, ativistas e veículos de comunicação que publicavam críticas ao STF, ao TSE e ao próprio Alexandre de Moraes. As informações, segundo apontou reportagem da Folha de S.Paulo em agosto de 2023, serviam de base para decisões do ministro que resultavam na remoção de postagens e no bloqueio de perfis em redes sociais.
As mensagens reveladas pela Folha mostravam que Moraes tinha alvos pré-definidos. À época, o ministro defendeu que as pessoas mencionadas nos relatórios já eram investigadas em inquéritos que tramitam no STF, como o das fake news, e que, na presidência do TSE, ele detinha poderes para coleta de provas.
Já nas mensagens privadas, agora reveladas, Tagliaferro expressa descontentamento com o trabalho e chega a se referir ao ex-chefe com termos ofensivos, chamando Moraes de “FDP”. Ele foi demitido da AEED em 9 de maio de 2023, um dia após ser preso por suspeita de violência doméstica em Caieiras (SP), após o disparo acidental de sua arma pessoal durante uma discussão com a ex-mulher e um amigo.
No último dia 2 de abril, a Polícia Federal indiciou o perito por violação de sigilo funcional com dano à administração pública, por supostamente ter vazado à imprensa as mensagens trocadas com outros auxiliares de Moraes.
A nova leva de mensagens reforça o clima de tensão e medo que envolvia o ex-assessor. Além de revelar o temor de represálias, os diálogos mostram um Eduardo Tagliaferro disposto, em determinado momento, a expor tudo o que sabia. “Estou cansado de carregar isso sozinho”, escreveu em uma das conversas.
O caso segue sob investigação no STF.
Informações: Gazeta do Povo