Comércio e serviços puxam recorde de empregos no RN e Fecomércio projeta “transformação estrutural” para os próximos anos

O Rio Grande do Norte vive um momento de crescimento econômico e tem se mostrado um terreno fértil — ainda que desafiador — para o empreendedorismo. Em 2024, o estado foi o terceiro do país com maior crescimento do PIB, segundo o Banco do Brasil, e a expectativa para 2025 é de mais um avanço, com previsão de alta de 2%. No entanto, questões como a necessidade de solidez fiscal e ampliação dos investimentos em infraestrutura ainda representam entraves significativos.

Para o presidente da Fecomércio RN, Marcelo Queiroz, o cenário aponta para setores estratégicos com grande potencial de expansão, como Turismo, Energia (renovável e petróleo), Infraestrutura e Comércio de Bens e Serviços. Este último, aliás, foi o responsável por dois terços dos mais de 34 mil empregos formais criados no estado em 2024. “O crescimento da economia e, por conseguinte, das atividades de Comércio e Serviços tem potencial para geração de grande quantitativo de empregos e renda”, destacou.

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O dirigente também aponta que inovação e capacitação são prioridades para impulsionar os negócios locais. Nesse contexto, o Senac RN, braço do Sistema Fecomércio, tem oferecido qualificação profissional e acesso a tecnologias emergentes como Inteligência Artificial, além de programas de assistência digital voltados para micro e pequenas empresas. Já o Sesc atua com cursos de valorização social que geram renda extra para a população.

Outro destaque é o avanço do comércio eletrônico, que dobrou de valor entre 2019 e 2024 no estado, e a necessidade de políticas públicas voltadas à estabilidade fiscal e atração de parcerias privadas.

O ajuste das contas públicas estaduais seria a melhor política pública a ser implementada no Estado, devolvendo ao governo a capacidade de investir e desenvolver a economia potiguar”, afirmou Queiroz.

Para os próximos cinco a dez anos, a Fecomércio RN projeta transformações estruturais com impacto direto na economia, como a concessão do Centro de Convenções, investimentos em petróleo na margem equatorial e a esperada concessão do saneamento básico, que deve destravar bilhões em investimentos e melhorar a qualidade de vida da população.

Confira a entrevista na íntegra

Presidente, como a Fecomércio RN avalia o atual ambiente de negócios no Rio Grande do Norte para quem deseja empreender?

O ambiente de negócios no Rio Grande do Norte é repleto de oportunidade, porém desafiador. O RN foi o 3º estado que mais cresceu em 2024, em termos de PIB, segundo o Banco do Brasil. E, para 2025, a perspectiva é de mais um ano de bons resultados, alcançando o crescimento de 2,0%. Porém enfrentamos um cenário de necessidade de maior solidez fiscal e investimentos, sobretudo em infraestrutura.


E quais setores da economia potiguar o senhor acredita que apresentam maior potencial de crescimento nos próximos anos?

O Turismo é um importante setor para a economia do nosso estado, com crescimento já observado esse ano, com a finalização da obra da engorda de Ponta Negra e a realização de grandes eventos, como réveillon e carnaval; passando pelo aeroporto, cuja nova concessionária assumiu as operações em 2024.

Outro setor é o de Energia, sejam as renováveis, como eólica, solar e hidrogênio verde, como as oriundas do petróleo, onshore, na região de Oeste e offshore, com a expansão dos investimentos na margem equatorial.

O setor de Infraestrutura também apresenta grande potencial de crescimento, seja no setor de logística, abrangendo tanto a rodoviária como a portuária; seja na mobilidade, com investimentos em transporte público de massa; ou em saneamento, a partir da concessão do saneamento no estado e o boom de investimentos para cumprimento das metas de universalização.

Na sua visão, quais são os principais desafios enfrentados pelos empreendedores locais hoje?

Há desafios de ordem nacional, como juros altos, inflação ascendente e câmbio desvalorizado, e de ordem estadual, como a infraestrutura, a carga tributária e a escassez de investimentos.

De que forma a Fecomércio RN tem atuado para incentivar a inovação nos negócios do estado?

Um dos braços sociais do Sistema Fecomércio RN é o Senac, voltado para a capacitação e qualificação profissional. Quando se fala em Inovação, o Senac RN é referência, por ter no seu portfólio cursos sobre Inteligência Artificial e a utilização de tecnologias inovadoras no aprendizado dos alunos.
Além disso, a instituição é responsável por oferecer aos empresários e colaboradores qualificações voltadas ao ambiente de negócios, atendimento, gestão e experiência do cliente. E parte dessas capacitações são oferecidas sejam de forma gratuita ou a preços subsidiados pela instituição, tendo um custo abaixo do que o mercado oferece.

Além disso, por meio do nosso Instituto, desenvolvemos estudos e pesquisas sobre o ambiente de negócios do estado, que pautam sugestões e propostas de desenvolvimento de políticas públicas e projetos.

A geração de empregos é uma das grandes expectativas em torno do empreendedorismo. Como o fortalecimento do comércio e dos serviços podem contribuir com isso aqui no RN?

O setor de Comércio e Serviços são os que mais empregam na economia potiguar, respondendo por mais da metade dos empregos formais no estado. O crescimento da economia, e por conseguinte, das atividades de Comércio de Bens e Serviços, tem potencial para geração de grande quantitativo de empregos e de renda, como observado em 2024, quando a economia potiguar cresceu mais de 6,0% e a geração de empregos foi recorde, com abertura de mais 34 mil postos de trabalho, sendo 2/3 destes no setor de Comércio e Serviços do RN.

O acesso a crédito e a capacitação profissional ainda são gargalos para pequenos e médios empreendedores. O que pode ser feito para mudar essa realidade?

Em um país com histórico de juros elevados, o acesso a crédito sempre foi e continua sendo um desafio para o setor empresarial. Ainda mais diante de um cenário de desaceleração da atividade econômica e elevação da taxa de juros. A orientação aos empreendedores é sempre buscar melhorar sua gestão financeira, para assim ter maior capacidade de acesso a linhas de crédito com menor custo, como as oferecidas por instituições de fomento e cooperativas de crédito.

Sobre capacitação profissional, o Sesc e o Senac são os caminhos para aqueles que desejam trabalhar no Comércio, Serviços e Turismo, tendo ou não uma experiência nos segmentos, ou que desejem empreender na área. Temos capilaridade em vários estados do RN, sejam com nossas unidades físicas ou móveis, oferecendo mais de 350cursos em nosso portfólio nas áreas de Beleza, Gestão e Negócios, Comunicação e Design, Gastronomia, Moda, Saúde e Tecnologia, por meio de Senac; e com o Sesc as capacitações com os Cursos de Valorização Social, que geram uma fonte de renda extra para muitos potiguares.

Como a transformação digital está impactando os negócios locais e como a Fecomércio tem orientado os empresários nesse processo?

O comércio eletrônico no Brasil e no Rio Grande do Norte tem apresentado um crescimento significativo nos últimos anos, refletindo mudanças no comportamento do consumidor e avanços tecnológicos. O RN apresentou o segundo maior crescimento do Nordeste nas vendas digitais entre 2019 e 2024, que mais que dobraram em valor, passando de R$ 990 milhões para R$ 2,3 bilhões. O número de compradores também evoluiu consideravelmente, passando de 68 milhões em 2019 para 91,3 milhões em 2024, um crescimento de 34,3%. Esse avanço reflete a inclusão digital de novos consumidores e ampliação geográfica do mercado.

Esse boom da venda no digital aconteceu na pandemia, quando o Senac RN criou o Programa de Assistência Digital Empresarial. A iniciativa direcionava as micros, pequenas e médias empresas – que são maioria na nossa economia, a se capacitarem para comercializar produtos e serviços nas plataformas digitais. Essa alternativa teve adesão tanto dos empresários como os consumidores que se perdura nos dias de hoje.

Para aqueles que optam por realizar compras on-line, a nossa orientação é que escolham lojas sediadas no Rio Grande do Norte, que têm a possibilidade de um atendimento e entrega mais rápida dos produtos, além de contribuírem com a geração de empregos locais.

Quais políticas públicas ou iniciativas o senhor acredita que deveriam ser implementadas para fortalecer o empreendedorismo no estado?

O ajuste das contas públicas estaduais seria a melhor política pública a ser implementada no Estado, devolvendo ao governo a capacidade de realizar investimentos e de desenvolver a economia potiguar. Nesse cenário de escassez de recursos públicos, a ampliação das parcerias público-privadas é fundamental para a ampliação dos investimentos e consequente aumento da competitividade estadual. Nesse sentido, há oportunidades nos setores de saneamento, Turismo, Rodovias, Mobilidade, Desenvolvimento Urbano, entre outros.

Como o turismo, um dos pilares da economia potiguar, pode ser melhor aproveitado para impulsionar o comércio e os serviços?

A partir da ampliação dos investimentos em acessos, seja através da melhoria da qualidade de vias e da duplicação, ou de maior conectividade aérea com outras cidades, nacionais e internacionais. A concessão de atrativos turísticos para gestão privada tem potencial também de destravar investimentos e ampliar interesse de turistas em vir visitar o estado, bem como a concessão de incentivos fiscais para o setor, que trariam maior competitividade para o turismo potiguar.

O que a Fecomércio RN projeta para o futuro dos negócios no RN nos próximos 5 a 10 anos? Que tendências devemos acompanhar de perto?

A transformação da Zona Sul de Natal, a partir da engorda de Ponta Negra e requalificação de sua orla, será um marco na transformação do turismo na capital, assim como a concessão do Centro de Convenções de Natal, que ampliarão tanto o turismo recreativo como o corporativo.
A ampliação dos investimentos na margem equatorial, que se inicia no Rio Grande do Norte, tem potencial para transformação das cidades litorâneas do Norte do estado, bem como do estado como um todo, a partir da ampliação das receitas oriundas da extração e produção de petróleo e gás.
O processo de concessão do Saneamento, em estudo pelo Governo do Estado em parceria com o BNDES, deve destravar bilhões de reais em investimentos por todo o estado, levando saúde, qualidade de vida e emprego e renda a todo interior do estado.