Polícia
Publicado em 07/04/2025, às 18h00 Redação
O Rio Grande do Norte passou a ocupar posição central nas operações de grupos criminosos, tanto locais quanto de abrangência nacional, servindo como rota para o tráfico de drogas, movimentações financeiras ilegais, escoamento de cargas e disputa por territórios. Um relatório obtido pela Tribuna do Norte aponta que 15 municípios do estado estão classificados como de “alta vulnerabilidade” pelas forças de segurança e serviços de inteligência, sendo áreas de origem de diversas ações criminosas — algumas com repercussão internacional.
As cidades estão distribuídas em diferentes regiões do estado, tanto no litoral quanto no interior, incluindo zonas portuárias e rotas hidroviárias. O levantamento foi realizado pela Secretaria Estadual de Segurança Pública e encaminhado ao Ministério da Justiça, que deverá executar uma ação integrada de combate ao crime organizado. A operação recebeu o nome de Arco das Divisas.
Segundo o secretário estadual de Segurança, Coronel Francisco Araújo, a capital Natal não figura na lista devido ao forte aparato policial. “Natal conta com o maior contingente policial, tanto em serviço ordinário quanto extraordinário. A estrutura de segurança é mais robusta, o que a torna menos vulnerável do que outras cidades do interior”, destacou.
Entre os municípios citados está Mossoró, segunda maior cidade do RN, localizada ao longo da BR-304. A cidade é tida como um eixo fundamental para o tráfico de entorpecentes e contrabando. A presença da única Penitenciária Federal do Nordeste aumenta a sensibilidade da região para a atuação do crime.
Outro ponto crítico no Oeste potiguar é Pau dos Ferros, identificada como área de risco pela presença de rotas clandestinas. A proximidade com o Ceará tanto em Mossoró quanto em Pau dos Ferros facilita a logística de ações criminosas.
O documento também cita Areia Branca e Natal, ambas com acesso portuário, como áreas estratégicas utilizadas por organizações que atuam no tráfico internacional de drogas com destino à Europa. Entre 2018 e 2022, o Porto de Natal registrou a apreensão de 7,5 toneladas de cocaína, com valor de mercado estimado em R$ 1,4 bilhão.
Na região interiorana, cidades na divisa com a Paraíba também foram destacadas como áreas de preocupação pela inteligência estadual.
“Essas localidades apresentam maior risco e foram incluídas no planejamento apresentado ao Ministério da Justiça. O estudo foi baseado em dados de inteligência, estatísticas criminais e necessidades operacionais”, detalhou o coronel Araújo.
A Operação Arco das Divisas tem como meta promover uma atuação integrada nas áreas limítrofes do estado, com presença reforçada de agentes de segurança e ações voltadas ao combate de crimes de fronteira. O plano visa ampliar a eficácia das forças locais por meio de estratégias conjuntas com órgãos regionais e federais.
“Essa operação já existia em estados com fronteiras internacionais, como no Mato Grosso do Sul e Amazonas. Agora, foi adaptada para incluir divisas interestaduais. O RN se enquadra por fazer limite com a Paraíba e o Ceará, além de possuir costa atlântica. O efetivo da PM e da Polícia Civil está envolvido diretamente nas ações de repressão, incluindo apreensões e capturas de criminosos”, disse o secretário.
Para os primeiros quatro meses de 2025, a operação contará com investimento de R$ 791 mil, destinados ao pagamento de 2.364 diárias operacionais, sendo 60% para policiais militares e 40% para civis.
Em 2024, a Operação Protetor — de mesma natureza — resultou na prisão de 104 suspeitos envolvidos em delitos como tráfico, contrabando, posse ilegal de armas, roubo, receptação e cumprimento de mandados. Foram apreendidos:
54 mil maços de cigarros, gerando prejuízo de R$ 1,6 milhão ao crime organizado
31 kg de entorpecentes diversos (maconha, cocaína, crack e pasta base)
47 armas e 17 veículos
O relatório do Ministério da Justiça, elaborado com dados da Sesed, detalha a atuação de facções criminosas em 15 cidades do interior potiguar. Confira:
Mossoró: Corredor logístico para drogas e mercadorias ilegais; ligação com o Porto de Natal.
Pau dos Ferros: Rota clandestina estratégica para tráfico e contrabando.
Nova Cruz: Utiliza vias secundárias para transporte de mercadorias ilícitas.
Macau: Saída para tráfico marítimo e redistribuição de combustíveis e produtos ilegais.
Touros: Área de desembarque de drogas; ligação entre litoral e interior por rotas alternativas.
Currais Novos: Atua como ponto de passagem para drogas e produtos ilegais.
Caicó: Localização estratégica facilita ações de tráfico e contrabando.
Extremoz: Proximidade com a capital e zonas industriais favorece logística criminosa.
Maxaranguape: Acesso complicado e pouca fiscalização em áreas costeiras e rodovias secundárias.
Rio do Fogo: Tráfico marítimo de drogas e eletrônicos, com pontos de difícil acesso para a polícia.
São Tomé: Estradas vicinais facilitam tráfico de entorpecentes no Seridó.
Jardim de Piranhas: Rota para transporte de ilícitos entre estados.
João Dias: Tráfico de drogas e armas; uso de rotas clandestinas entre estados.
Luís Gomes: Logística de tráfico e contrabando favorecida por pouca presença do Estado.
Areia Branca: Porto é ponto de entrada e saída de drogas e contrabando.
Classificação Indicativa: Livre